O que mais me preocupa hoje em dia no fisiculturismo é como as mortes por infarto fulminante estão se tornando frequentes, muitas vezes devido ao uso indiscriminado de esteroides anabolizantes. Esse cenário é alarmante, especialmente quando analisamos casos de atletas que já sofreram infartos ou têm histórico de problemas cardíacos graves.
Arnold Schwarzenegger, ícone do fisiculturismo, já passou por cirurgias cardíacas e tem ponte de safena. A recente morte de outro fisiculturista renomado também nos faz refletir. Embora alguns desses casos estejam relacionados a condições de saúde preexistentes, é evidente que o uso de esteroides amplifica os riscos, especialmente os cardíacos.
O maior vilão: o risco cardíaco
Entre todos os efeitos colaterais atribuídos ao uso de esteroides, o risco cardíaco é o único comprovado de forma consistente, principalmente no caso da testosterona. Estudos em indivíduos bem treinados e que utilizam doses elevadas de hormônios ainda são escassos, o que dificulta conclusões sobre outros efeitos.
Vale lembrar que os esteroides foram criados para fins medicinais, não para uso estético ou de performance. Por exemplo, a Trembolona, muito popular entre fisiculturistas, foi originalmente desenvolvida como droga veterinária para aumentar a musculatura de gado. Nunca houve uma formulação para humanos disponível em farmácias. Isso mostra o quanto a aplicação desses compostos no fisiculturismo está longe do que foi originalmente planejado.
O coração no centro do problema
O coração é um músculo que possui alta concentração de receptores para esteroides e hormônios tireoidianos. Quando exposto a essas substâncias, ele sofre alterações significativas, podendo desenvolver fibrose miocárdica, uma condição em que o tecido do coração se torna rígido e perde sua capacidade de contrair adequadamente.
Existe um estudo, feito há dois anos, com fisiculturistas para avaliar o impacto do uso de esteroides no coração. Com a ajuda de um médico especializado, foi utilizado um exame chamado strain miocárdico, ou speckle-tracking, que analisa a deformidade do miocárdio. Descobriu-se padrões alarmantes: muitos atletas apresentavam sinais de insuficiência cardíaca congestiva precoce, algo que precisa ser tratado imediatamente para evitar infartos em idades tão jovens quanto 20 ou 30 anos.
O cansaço crônico e a insuficiência cardíaca
A insuficiência cardíaca é um problema recorrente entre fisiculturistas, especialmente aqueles da categoria Open, onde o excesso de peso corporal é comum. Muitos relatam cansaço extremo, dificuldade para respirar e fadiga ao realizar atividades simples, como andar um quarteirão.
Um estudo comparativo ilustra bem o impacto no coração. Em um teste com corredores de endurance, ao apertar um alicate de pressão, esses atletas apresentaram aumento moderado da curva pressórica, mostrando que o coração respondia de forma saudável ao esforço. Quando o mesmo teste foi realizado com fisiculturistas, a resposta cardíaca foi quase inexistente. Isso indica que o coração desses atletas perdeu a capacidade de se contrair com força suficiente para atender às demandas do corpo.
A normalização do anormal
Infelizmente, muitos fisiculturistas enxergam esses sintomas como normais, já que grande parte dos colegas de treino apresenta as mesmas queixas. Essa normalização do anormal é perigosa e perpetua um ciclo de negligência com a própria saúde.
Casos de morte súbita, como o de um conhecido que faleceu recentemente, deveriam servir de alerta. Ele era um homem grande, visivelmente em forma, mas o cansaço crônico e a falta de ar já eram evidentes. Esses sinais não devem ser ignorados.
O papel do profissional de saúde
Se você sente cansaço extremo, dificuldade para respirar ou outros sintomas semelhantes, procure imediatamente um cardiologista ou um médico do esporte. Esses profissionais podem realizar exames mais detalhados e identificar problemas cardíacos precoces antes que se tornem fatais.
O estudo mostra que é possível identificar insuficiência cardíaca em estágios iniciais e tratá-la adequadamente. No entanto, isso só será viável se os atletas reconhecerem que há algo errado e buscarem ajuda.
Então, cuidado com os riscos
Embora o uso de esteroides seja eficaz para aumentar a massa muscular e melhorar a performance, os riscos, especialmente os cardíacos, não podem ser ignorados.
A categoria Open é um exemplo claro de como o excesso de peso e o uso indiscriminado de substâncias podem levar a problemas graves. É raro encontrar um atleta dessa categoria que não apresente algum grau de insuficiência cardíaca ou dificuldades respiratórias, especialmente nos períodos em que está mais pesado.
Precisamos desmistificar essa ideia de que esses sintomas são normais e criar uma cultura de responsabilidade com a saúde. O fisiculturismo é um esporte que exige dedicação extrema, mas nenhum troféu vale a sua vida.
Seja responsável com seu corpo, busque orientação profissional e, principalmente, valorize sua saúde acima de qualquer título ou resultado estético. Afinal, o maior troféu que podemos conquistar é viver plenamente e com qualidade.
