Hoje vamos falar sobre um tema que sempre gera muito debate: o famoso café com óleo de coco. Esse hábito ficou popular nos últimos anos, mas será que ele realmente é tudo isso? Vamos desmistificar essa tendência, explicar de onde ela veio e analisar se faz sentido no contexto de quem treina ou busca emagrecimento.
O “Terrorismo” nutricional da internet
Antes de entrar no tema principal, quero fazer um alerta. Hoje em dia, muita gente sofre com o que eu chamo de “terrorismo nutricional” na internet. As pessoas ficam obcecadas em demonizar certos alimentos, como o arroz, o pão ou o macarrão, enquanto ignoram outros detalhes importantes da dieta.
Por exemplo, tem gente que tira o arroz do prato, mas nem repara naquela salada cheia de azeite ou na pasta de amendoim que virou um “reforço energético”. Não estou dizendo que azeite ou pasta de amendoim são vilões, mas é preciso entender que existe um limite calórico diário. Se você extrapola esse limite com gordura, acaba prejudicando sua performance e os resultados que espera alcançar.
De onde vem o café com óleo de coco?
Agora vamos polemizar! Quando foi que o café com óleo de coco virou moda? Tudo começou nos Estados Unidos, com um movimento liderado por algumas figuras públicas, como o autor Gary Taubes, que popularizou a ideia de que o açúcar é um veneno.
Taubes ajudou a propagar o modelo de “carboidrato-insulina-obesidade”, que basicamente defende que o consumo de carboidratos seria o principal culpado pelo ganho de peso. Essa ideia abriu espaço para a dieta cetogênica, que reduz drasticamente o consumo de carboidratos e aumenta o consumo de gorduras.
Dentro da dieta cetogênica, surgiu a ideia do Bulletproof Coffee, ou seja, café com manteiga e óleo de coco. Essa prática foi impulsionada como uma estratégia para aumentar a energia, especialmente para quem está adaptado à cetose.
O que é cetose e cetoadaptação?
Para quem não está familiarizado, a cetose ocorre quando você reduz o consumo de carboidratos a menos de 50 gramas por dia. Nesse estado, o corpo é forçado a usar gordura como principal fonte de energia.
Essa transição não é imediata; leva de 7 a 15 dias para que o corpo se adapte a usar corpos cetônicos como combustível. Nesse período, o cérebro, que normalmente prefere glicose, começa a utilizar os corpos cetônicos como fonte de energia alternativa.
Quando você está adaptado à cetose, o triglicerídeo de cadeia média (TCM), presente no óleo de coco, pode ser útil como fonte de energia rápida, pois é metabolizado diretamente pelo fígado e transformado em corpos cetônicos.
Mas e o óleo de coco no café?
Aqui começa o problema. O óleo de coco, embora contenha TCMs, não é composto apenas por eles. Na verdade, a maior parte do óleo de coco é gordura saturada, e apenas uma pequena fração é o TCM do tipo C8 (ácido caprílico), que é a gordura de cadeia média mais eficiente para gerar energia rápida.
Nos Estados Unidos, é possível encontrar TCM puro, como o C8 em forma líquida, que pode ser adicionado ao café. Já o óleo de coco é uma mistura de diferentes tipos de gordura, e sua eficiência como fonte de energia é bem menor.
Além disso, muita gente exagera na dose. Um café com óleo de coco e manteiga pode facilmente adicionar mais de 200 calorias à dieta, o que não é ideal para quem está tentando emagrecer ou melhorar a composição corporal.
O problema de copiar sem contexto
Muitas pessoas no Brasil começaram a adotar o café com óleo de coco sem entender o contexto. Lá fora, essa estratégia é usada principalmente por pessoas que seguem a dieta cetogênica e estão cetoadaptadas.
No entanto, aqui, vemos gente adicionando óleo de coco ao café sem nem saber o que é cetose e, pior, sem contabilizar essas calorias no plano alimentar.
Se você está em uma dieta balanceada e consome carboidratos regularmente, não faz sentido substituir uma fonte eficiente de energia, como os carboidratos, por uma gordura que não oferece os mesmos benefícios.
A realidade do café com óleo de coco
Vamos esclarecer: adicionar óleo de coco ao café não vai fazer milagres. Ele não é uma fórmula mágica para emagrecimento e, na maioria dos casos, pode até atrapalhar, especialmente se você não está em cetose.
Para quem treina e consome carboidratos, o café preto puro já é uma excelente opção pré-treino, pois a cafeína melhora o foco e a performance. O óleo de coco, nesse caso, só adiciona calorias desnecessárias.
Agora, se você está em uma dieta cetogênica bem planejada e precisa de uma fonte de energia rápida, o TCM puro pode ser uma boa escolha. Mas, mesmo assim, use com moderação e com orientação profissional.
Modismos nutricionais podem ser mal interpretados e mal aplicados
O café com óleo de coco é um ótimo exemplo de como modismos nutricionais podem ser mal interpretados e mal aplicados. Se você ouviu na TV ou na internet que essa prática emagrece ou melhora o desempenho, cuidado! Muitas vezes, essas informações vêm de uma interpretação superficial da ciência.
Antes de adicionar qualquer coisa à sua dieta, procure entender o contexto e, de preferência, consulte um profissional.
Lembre-se:
- O que funciona para uma pessoa pode não funcionar para outra.
- Os carboidratos são uma fonte eficiente de energia, especialmente para quem treina.
- Não demonize alimentos sem necessidade.
- Foque no que realmente faz sentido para o seu corpo e seus objetivos.
Então, fica aqui meu recado: menos café com óleo de coco e mais equilíbrio na dieta. Seu corpo vai agradecer!