O Impacto da Obesidade e o Que Realmente Funciona no Tratamento
Vamos entrar um pouco mais no assunto da obesidade. Pessoas que chegam com 140, 150 kg, principalmente lá nos Estados Unidos e Canadá, onde a média de peso dos pacientes que me procuram é bem alta. Homens com 1,80 m, 1,90 m e com um nível de obesidade muito elevado. E aí, como começa esse trabalho? Primeiro, antes de qualquer coisa, é conversar.
Entender quem é essa pessoa, como ela vive, o que ela come, qual a relação dela com a comida. Porque obesidade não é só sobre comida, é sobre comportamento alimentar.
A Relação entre Quantidade de Calorias e Tipos de Alimentos
A grande questão é que essas pessoas estão acostumadas a consumir um volume absurdo de calorias ao longo do dia, mas com alimentos ultraprocessados, hiperpalatáveis, extremamente calóricos. O cara senta e come sete, oito fatias de pizza como se fosse nada. Mas, quando você pega um prato grande de arroz, batata e frango, ele olha e fala: “Isso é comida demais pra mim, eu não consigo comer tudo isso.”
Só que, na prática, ele aguenta sim! A diferença é que os ultraprocessados são densos em calorias e pequenos em volume. Uma pizza inteira desce fácil, mas tenta comer um prato de comida de verdade do mesmo valor calórico. Não dá, porque o volume é muito maior.
E outra: a gente percebe que esse consumo calórico insano acontece principalmente em determinados horários do dia. Tem cara que não come quase nada de manhã, passa o dia beliscando, e à noite, sentado na frente da TV, ele joga para dentro três, quatro mil calorias de uma vez.
Comer Assistindo TV: Um Padrão Perigoso
Isso lembra um trabalho feito em 2000, um estudo sobre obesidade infantil. Onde avaliaram o padrão de ondas cerebrais quando a criança assiste TV e quando ela come. Depois, fizeram um terceiro teste: quando a criança come assistindo TV.
O resultado foi impressionante: o padrão de atividade cerebral da criança comendo enquanto assiste TV é o mesmo de quando ela só está assistindo TV.
Ou seja, ela não está comendo de forma consciente. Ela simplesmente continua colocando comida para dentro sem perceber, porque a atenção dela está voltada para a tela. O cérebro dela não processa a saciedade da mesma forma.
Agora imagina isso num adulto. Se a pessoa tem esse hábito desde criança, ela cresce acostumada a comer no automático. Aí chega em casa depois de um dia estressante, senta no sofá e começa: um saco de Doritos, uma Coca-Cola, um chocolate, mais um pacote de salgadinho… E, quando vê, já bateu 3.000 calorias de uma vez.
Aí você pergunta: “Mas você estava com fome?” E a pessoa responde: “Nem sei, só fui comendo.”
E é exatamente isso que acontece. A pessoa não está comendo porque precisa, mas porque aquilo virou um hábito de entretenimento. O problema não é só a comida, mas a relação dela com a comida.
O Aumento dos Casos de Obesidade Grave
Nos últimos tempos, eu tenho visto cada vez mais casos graves de obesidade. Antes, era algo mais esporádico. Agora, é toda semana. Eu, e acredito que vocês também, já esperava que isso fosse acontecer, porque muitas pessoas passaram dois anos inteiros paradas dentro de casa, sem rotina, sem treino, e usando a comida como escape emocional.
E aí, quando você junta isso com um metabolismo que já estava desregulado, com hábitos ruins de sono e atividade física, o resultado é desastroso.
O grande problema é que, quando a pessoa chega nesse ponto, ela já não sabe mais o que fazer. Ela sente que está presa no próprio corpo, sem energia, sem disposição, sem vontade de mudar. A comida virou a única fonte de prazer.
A Solução Não Está em “Cortar Tudo”
A solução nunca é radicalizar. Não adianta chegar para essa pessoa e dizer: “A partir de hoje, você só vai comer frango e brócolis.” Isso não funciona.
O que a gente precisa fazer é reeducar a forma como essa pessoa se alimenta. Porque ela pode, sim, comer coisas que gosta, mas precisa aprender a controlar quantidade, frequência e contexto.
Por exemplo:
Se você gosta de pizza, beleza, você pode comer. Mas será que precisa ser oito fatias ou dá para ficar em duas e completar a refeição com outra coisa?
Se você curte um lanche, será que precisa ser um combo triplo com batata grande e milkshake? Ou dá para fazer escolhas melhores?
É um processo que leva tempo, mas que funciona quando a pessoa entende que precisa mudar a cabeça antes de mudar o corpo. No final das contas, emagrecimento sustentável não vem de uma fórmula mágica. Não adianta buscar atalhos com remédio, cirurgia ou dietas malucas.
O que emagrece de verdade é hábito.
Se a pessoa entende isso, ela muda para sempre.