Os implantes hormonais, conhecidos popularmente como “chips”, têm gerado bastante polêmica no Brasil. Hoje, vou explicar como eles funcionam, os problemas associados à sua produção e os riscos que muitos pacientes enfrentam ao optar por essa tecnologia. Vamos desmistificar isso juntos.
Como os Implantes Hormonais São Produzidos no Brasil?
No Brasil, os implantes hormonais são 100% manipulados. Não existe um produto industrializado aprovado pela Anvisa para esse fim. A produção é quase artesanal: um pequeno tubo de silicone é preenchido manualmente com os compostos hormonais. Esse processo envolve uma pesagem manual, o que naturalmente abre margem para erros de dosagem.
Muitas pessoas acreditam que esses implantes são tecnologias avançadas, comparáveis a chips de alta tecnologia, mas a realidade é bem diferente. O termo “chip hormonal” surgiu de uma confusão com uma iniciativa do Bill Gates, que desenvolvia um microchip anticoncepcional com liberação controlada via software, algo completamente diferente do que temos no Brasil.
Os Problemas de uma Tecnologia Rudimentar
Por ser um processo manual, a produção dos implantes no Brasil apresenta riscos. Não há controle rigoroso da farmacocinética (como o hormônio é liberado no corpo) ou da bioequivalência (se a dose no implante é consistente com o que o corpo absorve).
Isso significa que dois implantes idênticos em aparência podem ter velocidades de liberação diferentes, o que pode causar efeitos colaterais graves. Por exemplo, já vi casos em que a duração esperada de um implante era de 6 meses, mas, na prática, ele durou apenas 3 meses ou, em outros casos, liberou doses muito altas no início, causando uma série de problemas.
Riscos à Saúde
Os efeitos colaterais associados aos implantes hormonais manipulados podem ser severos. Entre os casos que acompanhei, algumas mulheres relataram queda de cabelo acentuada a ponto de precisar de transplante capilar. Esses efeitos não são reversíveis enquanto o implante estiver no corpo.
Outro problema é que os médicos que prescrevem esses implantes nem sempre oferecem suporte adequado quando surgem efeitos colaterais. Em muitos casos, os pacientes ficam sem respostas ou são tratados com medidas paliativas que não resolvem a questão principal.
Comparação Injusta: Ferrari e Kombi
Um dos erros mais comuns é a comparação de estudos feitos com implantes hormonais industrializados, como os da Organon nos Estados Unidos, com os manipulados no Brasil. Os produtos industrializados passam por rigorosos controles de qualidade, garantindo doses precisas e farmacocinética previsível. Já os manipulados, infelizmente, não têm essa mesma padronização.
Comparar um estudo sobre implantes industrializados com os manipulados no Brasil é como usar dados sobre a aerodinâmica de uma Ferrari para defender uma Kombi. Ambos podem ser veículos, mas a performance e a tecnologia são incomparáveis.
Por Que “Chip Hormonal”?
O termo “chip” gerou uma falsa impressão de que esses implantes manipulados são altamente tecnológicos. A ideia de um chip hormonal de alta tecnologia, como o desenvolvido por Bill Gates, envolve controle via software, possibilidade de pausar a liberação hormonal e uma durabilidade de até 16 anos.
O que temos no Brasil é um tubo de silicone preenchido manualmente. Não há nada remotamente tecnológico nisso. Além disso, enquanto os chips de alta tecnologia têm implicações éticas e de segurança cibernética (como o risco de manipulação remota), os implantes brasileiros são apenas uma solução rudimentar vendida como algo inovador.
Popularização e Abuso
Com a popularização dos implantes hormonais, muitos profissionais passaram a prescrever doses arbitrárias e, em alguns casos, implantes múltiplos para alcançar resultados mais rápidos. A lógica seria: “Se um implante de 2 mg funciona, 3 implantes devem ser ainda melhores.”
Isso é um grande erro. Aumentar a dose pode sim potencializar os resultados, mas também multiplica os riscos e os efeitos colaterais.
Entre os relatos, estão problemas hormonais severos, ganho de peso descontrolado, acne, alterações emocionais e queda de cabelo, entre outros.
Cuidado ao Optar por Implantes
Se você está considerando o uso de um implante hormonal, aqui vão algumas recomendações:
- Evite implantes como primeira experiência hormonal: Se você nunca utilizou hormônios antes, comece com métodos mais controláveis e reversíveis, como comprimidos ou injeções. Isso permite ajustar as doses e observar como seu corpo reage.
- Pesquise sobre o profissional: Certifique-se de que o médico é experiente e transparente sobre os riscos.
- Considere os efeitos colaterais: Implantes não são fáceis de remover, especialmente os não absorvíveis. Caso ocorram efeitos colaterais graves, você pode ficar meses ou até um ano lidando com as consequências.
- Não confie cegamente em argumentos baseados em estudos estrangeiros: Verifique se os artigos usados para justificar o uso dos implantes realmente se aplicam aos produtos disponíveis no Brasil.
Os implantes hormonais no Brasil estão longe de ser uma solução de alta tecnologia. Apesar de serem vendidos como a última palavra em avanços médicos, a realidade é que eles são rudimentares, com riscos consideráveis e pouca padronização.
Se você está pensando em usar um implante hormonal, informe-se, questione seu médico e avalie outras opções. Lembre-se de que sua saúde está em jogo, e escolhas precipitadas podem trazer consequências a longo prazo.