Recebo muitas perguntas sobre os efeitos dos esteroides no corpo, e uma dúvida frequente é: “Os esteroides prejudicam diretamente os rins?” Essa é uma questão importante e envolve várias nuances. Vamos conversar sobre isso, com base no que sabemos da ciência e das práticas no meio esportivo, especialmente no fisiculturismo.
Esteroides e prejuízos renais: o que diz a ciência?
Quando olhamos para os estudos, não encontramos muitas evidências de que os esteroides anabolizantes, por si só, causem diretamente problemas graves nos rins. Existem pesquisas que apontam alterações fisiológicas e casos isolados de complicações, mas não há um consenso científico claro de que os esteroides, usados de forma controlada, levam a danos renais significativos.
Porém, é essencial entender que, no contexto real, especialmente em esportes como o fisiculturismo, o uso de esteroides raramente acontece de forma isolada. Geralmente, o uso dessas substâncias está associado a outros fatores, como manipulação de eletrólitos, uso de diuréticos e práticas extremas que podem sobrecarregar os rins.
O papel dos diuréticos e da manipulação de eletrólitos
Vamos falar sobre algo que é muito comum nas fases de finalização em competições de fisiculturismo: o uso de diuréticos e a manipulação de sódio e potássio. É aqui que a saúde renal pode ser realmente colocada em risco.
1. Zerar sódio e abusar de potássio
Muitos atletas acreditam que, ao reduzir drasticamente o sódio e aumentar o consumo de potássio, conseguirão uma desidratação mais eficaz. Isso é um grande erro. Esse desequilíbrio pode levar a complicações graves, como cãibras intensas, arritmias cardíacas e até falência renal.
2. Uso excessivo de diuréticos
O abuso de diuréticos é outro problema sério. Medicamentos como furosemida, usados para eliminar o excesso de líquidos, podem causar desidratação extrema e desbalancear ainda mais os eletrólitos. Em alguns casos, atletas combinam diuréticos poupadores de potássio, como espironolactona, com altas doses de potássio, criando um cenário perigoso para os rins e o coração.
3. Rebote após a desidratação
Depois da competição, o corpo muitas vezes entra em um “rebote“, retendo líquidos de forma descontrolada. Isso também pode sobrecarregar os rins, especialmente se o atleta não fizer uma reidratação e uma recuperação adequadas.
Casos reais: aprendendo com erros do passado
Infelizmente, há exemplos trágicos de atletas que sofreram complicações graves ou até morreram devido a práticas equivocadas durante a finalização. Um caso bem conhecido é o de Mohammed Benaziza, um fisiculturista profissional que faleceu em 1992. As evidências indicam que ele sofreu complicações devido a manipulações extremas de líquidos e eletrólitos na fase final de preparação para uma competição.
Outro exemplo é do fisiculturista brasileiro Fernando Sardinha. Ele relatou uma experiência em que quase perdeu a vida durante uma finalização, após usar um diurético poupador de potássio (espironolactona) em combinação com outras substâncias. Esse erro resultou em hipercalemia (altos níveis de potássio no sangue), o que o levou ao hospital.
Esses casos destacam como o problema geralmente não é o diurético ou o esteroide isoladamente, mas o contexto em que eles são usados.
Por que os desequilíbrios eletrolíticos são tão perigosos?
O corpo humano é extremamente sensível a alterações nos níveis de sódio, potássio e outros eletrólitos. Esses minerais são essenciais para funções vitais, como:
- Contração muscular
- Funcionamento cardíaco
- Regulação da pressão arterial
Os principais riscos incluem:
- Zerar sódio: O corpo perde a capacidade de regular a retenção hídrica e a pressão sanguínea.
- Aumentar potássio de forma exagerada: Pode causar fraqueza muscular, paralisia e arritmias cardíacas fatais.
- Uso de diuréticos potentes: Diuréticos como furosemida podem levar a insuficiência renal se usados de forma inadequada.
Como evitar problemas renais no uso de esteroides e diuréticos?
A primeira coisa a ser dita é que a saúde deve ser prioridade. Nenhum físico vale o risco de prejudicar os rins ou outros órgãos vitais. Para quem compete ou usa essas substâncias, algumas orientações podem ajudar:
1. Evite práticas extremas
Não há necessidade de zerar completamente o sódio ou abusar do potássio. Manipulações leves e bem planejadas são suficientes para alcançar um bom resultado estético.
2. Use diuréticos com acompanhamento médico
Se for usar diuréticos, faça isso sob supervisão de um profissional experiente. O uso indiscriminado pode ser fatal.
3. Monitore seus eletrólitos
Acompanhe regularmente os níveis de sódio, potássio e outros minerais no sangue, especialmente durante fases de manipulação extrema.
4. Reidrate-se corretamente
Após a competição, a reidratação deve ser feita de forma gradual e controlada, para evitar o rebote hídrico e aliviar a sobrecarga nos rins.
5. Valorize a saúde renal
Os rins são órgãos extremamente importantes, e sua saúde não pode ser negligenciada. Beba bastante água, evite sobrecargas desnecessárias e priorize o equilíbrio em todas as práticas.
Os esteroides não são os grande vilões
Os esteroides, por si só, não são grandes vilões da saúde renal, mas o contexto em que são usados, especialmente em combinações com diuréticos e manipulações extremas de eletrólitos, pode ser extremamente perigoso.
Lembre-se: não vale a pena comprometer a saúde em busca de um físico perfeito. O equilíbrio e a responsabilidade devem ser sempre as prioridades.