Por Que Remédio Não Emagrece?
Vamos lá. Existe algum caso que eu olho e digo: “Cara, aqui eu indicaria cirurgia bariátrica“? Olha, eu tento ao máximo não entrar nesse caminho. Não porque eu ache que ninguém deva fazer, mas porque eu acredito que a gente tem muitas estratégias para tentar antes de um procedimento invasivo.
Hoje, a gente tem farmacologia avançada. Tem médico que trabalha muito bem com os remédios certos, tem toda uma gama de estratégias farmacológicas para ajudar a controlar o peso. Mas não é só isso. Tem o nutricionista, tem o educador físico, tem o psicólogo, e cada um desses profissionais tem um papel essencial no tratamento. Se você consegue estruturar esse time e a pessoa realmente se compromete com o processo, muitas vezes, a cirurgia deixa de ser necessária.
A Cirurgia Bariátrica é a Solução?
Agora, por que eu falo isso? Porque cirurgia bariátrica não é só uma questão de reduzir o tamanho do estômago. Se o paciente não mudar os hábitos, se ele não aprender a lidar com a relação dele com a comida, ele vai dar um jeito de contornar a cirurgia e continuar se sabotando. Eu já vi gente operada que, mesmo com o estômago reduzido, continuava engordando porque só comia alimentos hiperpalatáveis, ultracalóricos. Então, o buraco é muito mais embaixo.
O que acontece é que muitas pessoas veem a comida como uma recompensa imediata. Elas não comem porque estão com fome, elas comem porque querem aquela sensação de prazer ali, na hora. E quando a gente tira esse gatilho e fala: “Calma, agora você não pode comer sempre que quiser”, você tá mexendo em algo que a pessoa faz há anos, muitas vezes, a vida toda. É como se fosse um vício.
Agora pensa: eu chego para alguém que está acostumado a comer toda hora e digo: “Agora você só pode comer dentro de uma rotina estruturada e sua recompensa virá daqui a 60 dias.” Essa pessoa simplesmente não consegue entender isso de imediato. É como se alguém falasse para mim e para você: “A partir de hoje, vocês não podem mais treinar.” A gente ia enlouquecer! Porque já faz parte da nossa vida, do nosso bem-estar.
Mudança de Hábitos: O Segredo do Emagrecimento
E é isso que acontece quando alguém decide mudar de vida. Mudar hábito é um negócio complicado. E a gente precisa ter consciência disso. A medicina, inclusive, mudou muito nesse sentido. Antes dos anos 2000, os médicos diziam: “Esquece, mudar estilo de vida é impossível.” Hoje, já entenderam que não tem outro caminho. Porque remédio sozinho não resolve.
Você pode ter o melhor medicamento do mundo, mas se a pessoa não muda o estilo de vida, o peso volta. A gente vê isso direto. O cara toma um remédio potente, tipo um inibidor de apetite, e acha que agora está livre para comer o que quiser. Só que aí, em vez de comer comida de verdade, ele come só o que “desce” fácil. Não aguenta um prato de arroz e feijão, mas consegue comer coxinha, pastel, churros… Ou seja, ele dribla o próprio remédio e continua ingerindo muita caloria.
E aí vem o pior: remédio não ensina ninguém a comer. A pessoa acha que está emagrecendo por causa do remédio, mas quando para de tomar, recupera tudo rapidinho. E, muitas vezes, volta ainda pior do que antes. Porque o comportamento alimentar dela nunca foi ajustado.
A pessoa faz dieta direitinho por um tempo, melhora, e depois some. Um ano depois, volta com 12, 15 quilos a mais. Por quê? Porque largou o processo, porque não criou um estilo de vida sustentável.
E aí tem outro problema: quanto mais a pessoa engorda, mais o tecido adiposo manda sinais para o corpo manter aquela gordura ali. É um ciclo vicioso. O cérebro se acostuma com o peso alto e começa a sabotar qualquer tentativa de emagrecimento. A pessoa se sente cada vez mais cansada, desmotivada, tudo vira um sacrifício. Até levantar do sofá parece um esforço enorme.
E o que acontece? Ela volta a buscar recompensa na comida.
A Importância do Hábito para o Emagrecimento Sustentável
A gente precisa entender que emagrecimento sustentável não vem de uma fórmula mágica. Não existe remédio que emagrece. O que emagrece é hábito. A pessoa pode até usar um remédio como um auxílio, mas se ela não mudar o comportamento alimentar, nada vai funcionar a longo prazo.
Lembra daqueles remédios antigos, tipo os anorexígenos, que foram proibidos? Eles tiravam a fome, mas não ensinavam ninguém a comer. A pessoa parava de tomar e voltava a comer o triplo. Por quê? Porque o problema não era a fome em si, mas o hábito de buscar conforto na comida.
Imagina que você está com o braço machucado e toma um analgésico. O analgésico tira a dor, mas não cura a lesão. Você continua com o braço lesionado, só que agora não sente mais nada. O que acontece? Você força o braço e piora ainda mais a lesão.
O mesmo vale para quem tem transtorno alimentar ou obesidade. O problema não está só na comida, mas na forma como o cérebro responde a ela. A pessoa não sente saciedade da maneira correta, não consegue parar de comer e não consegue ficar sem comer.
Então, o que adianta dar um remédio que só mascara isso? Quando o efeito passar, a fome volta triplicada e o peso também.
É por isso que o trabalho do nutricionista não é só montar dieta. Eles precisam ajudar a pessoa a entender que a comida dela tem um contexto, que tem estratégia, que ela pode sim comer coisas gostosas, mas dentro de um planejamento que faça sentido.
Se a pessoa entende isso, o jogo vira. Porque aí ela começa a construir um novo padrão alimentar, começa a mudar aos poucos, e essas mudanças viram parte da vida dela.
Então, não adianta achar que existe fórmula mágica. Se você quer emagrecer de verdade, tem que jogar o jogo certo. E esse jogo é feito de hábito.