A Polêmica do Deltóide: Força ou Resistência?
Hoje vamos esclarecer uma polêmica que surgiu recentemente sobre o deltóide, suas fibras musculares e a abordagem correta de treinamento.
Os Tipos de Fibras Musculares
Primeiro, para quem não está tão familiarizado, vamos falar rapidamente sobre os três tipos básicos de fibras musculares:
- Fibras Oxidativas (ou Fibras Vermelhas):
Essas fibras são mais voltadas para atividades de resistência e aeróbicas. Elas são altamente eficientes no uso de oxigênio para gerar energia e são recrutadas em exercícios de longa duração e menor intensidade.
- Fibras Glicolíticas (ou Fibras Brancas):
Essas são as fibras de força, especializadas em atividades explosivas e de alta intensidade. Elas dependem de energia anaeróbica, ou seja, gerada sem oxigênio, e são recrutadas em treinos curtos e intensos.
- Fibras de Transição:
Essas fibras podem ser “treinadas” para se comportarem como fibras de resistência ou de força, dependendo do estímulo que recebem. É como se fossem “neutras”, adaptando-se conforme o tipo de exercício.
O Que Isso Tem a Ver com o Deltóide?
Agora que você entende os tipos de fibras, vamos falar especificamente sobre o deltóide. O deltóide é um músculo interessante porque apresenta uma proporção bem equilibrada entre fibras oxidativas e fibras de força, mas com uma leve predominância para as fibras oxidativas. Estudos mostram que, em média, o deltóide possui:
- 49% de Fibras Oxidativas (Resistência)
- 51% de Fibras de Força e de Transição (Soma)
Isso significa que o deltóide tem uma capacidade incrível de realizar movimentos repetitivos, tornando-o naturalmente predisposto a exercícios de maior volume e com mais repetições.
A Importância do Treinamento para as Fibras de Transição
Um ponto crucial aqui é como as fibras de transição se comportam. Essas fibras são altamente adaptáveis. Se você treina predominantemente força, elas tendem a se comportar como fibras de força. Se o foco é resistência, elas se adaptam para isso.
Porém, a maioria das pessoas não faz apenas um tipo de treino. Se em algum momento do seu treinamento você inclui séries de alta repetição ou intervalos curtos, é provável que essas fibras de transição permaneçam em um “meio-termo” — sem se especializar totalmente em força ou resistência.
Isso explica por que é importante variar os estímulos no treinamento, especialmente para músculos como o deltóide.
Deltóide e Drop-Set: Um Match Natural
Se o deltóide tem uma leve predominância de fibras oxidativas e uma capacidade de adaptação incrível, faz sentido que ele responda muito bem a técnicas como o drop-set e treinos com altas repetições.
O deltóide é um músculo que suporta bem a fadiga e consegue realizar séries intermináveis de repetições. Por isso, treinos com maior volume geralmente trazem melhores resultados em termos de hipertrofia.
Agora, aqui entra a polêmica: se alguém diz que a maioria das fibras do deltóide é de força, então, por que não vemos treinos de força pura, como elevação lateral com baixa repetição? Isso não faz sentido porque o deltóide simplesmente não responde de forma eficiente a esse tipo de estímulo.
Força e Elevação Lateral?
Já viu alguém fazendo treino de força pura com elevação lateral? É raro. Isso porque a elevação lateral, um dos exercícios mais icônicos para deltóide, funciona muito melhor com altas repetições e técnicas que prolongam o tempo sob tensão.
É claro que você pode adicionar carga e trabalhar a força, mas normalmente entra em jogo uma combinação de outros músculos, e o deltóide perde parte do protagonismo. Por isso, é muito mais eficiente focar em repetições mais altas e progressões de volume.
Por Que Essa Discussão Importa?
A questão das fibras musculares no deltóide não é apenas um debate técnico, mas uma questão prática. Saber que o deltóide tem essa predisposição natural para resistência ajuda a orientar o treinamento de forma mais eficiente.
Se você entender que o deltóide responde bem a altas repetições e técnicas como drop-set, pode ajustar seu treino para obter melhores resultados em menos tempo. Por outro lado, insistir em treinos de força pura para esse músculo pode limitar seus ganhos.
Então, fica claro que o deltóide é um músculo com características únicas, equilibrando fibras de força e resistência, mas com uma leve predominância para as fibras oxidativas. Isso o torna ideal para treinos de alto volume e técnicas que exigem resistência muscular.
Claro, sempre existe margem para discussão, mas o importante é entender que o tipo de estímulo que você dá para o músculo vai influenciar diretamente nos resultados. Por isso, variar o treino e adaptar os estímulos é fundamental para maximizar o desenvolvimento do deltóide.