Muita gente fica preocupada com os níveis de colesterol no sangue e, quando o exame aponta um LDL elevado, surge a dúvida: será que a culpa é da alimentação? Recentemente, recebi uma pergunta sobre isso. Um seguidor disse que o cardiologista dele culpou os ovos pela elevação do LDL. Mas será que o ovo merece essa fama?
Hoje, vamos esclarecer tudo com base em ciência, estudos e um pouco de bom senso.
O mito do ovo e o colesterol
Esse é um mito antigo que, infelizmente, ainda confunde muita gente. Quando se descobriu que o ovo era rico em colesterol, foi feita uma relação direta entre o consumo de ovos e o aumento do colesterol no sangue. À primeira vista, faz sentido: “Se o ovo tem colesterol, comer ovos vai aumentar o colesterol.” Mas as coisas não são tão simples assim.
Um estudo realizado em Harvard com mais de 20 mil pessoas desmistificou essa ideia. A pesquisa mostrou que o colesterol da dieta tem, no máximo, uma influência de 15% no colesterol sanguíneo. Ou seja, o que realmente altera os níveis de LDL não é o colesterol presente nos alimentos, mas sim outros fatores, como o consumo de gorduras saturadas, gorduras trans e carboidratos refinados.
O que realmente aumenta o LDL?
Se o problema não está no colesterol dos alimentos, o que faz o LDL subir? Vamos por partes:
1. Gorduras Saturadas
Encontradas em alimentos como carnes gordurosas, queijos e alguns produtos lácteos. O consumo excessivo dessas gorduras pode elevar o LDL.
2. Gorduras Trans
Presentes em alimentos industrializados, como margarinas e produtos ultraprocessados. Essa gordura é especialmente prejudicial e tem um impacto significativo no perfil lipídico.
3. Carboidratos Refinados
Alimentos como pães brancos, bolos, doces e outros carboidratos simples podem levar ao aumento dos níveis de triglicerídeos. Quando os triglicerídeos sobem, eles podem acabar influenciando o metabolismo das lipoproteínas, contribuindo indiretamente para o aumento do LDL.
Se você pensa no “ranking” dos maiores vilões para o colesterol, o ovo nem aparece entre os primeiros. O problema está em alimentos ricos em gorduras ruins e carboidratos ultraprocessados, como picanha com gordura, bolos recheados e sorvetes.
Ovo: herói mal-interpretado
Agora, voltando ao ovo, vamos colocá-lo no lugar que merece. O ovo, especialmente quando preparado de forma saudável (sem fritar em óleo de coco ou excesso de manteiga), não é um problema para a maioria das pessoas.
Ele é uma fonte excelente de proteína de alta qualidade e fornece nutrientes essenciais, como a colina, que é fundamental para a saúde cerebral e o metabolismo.
Se o seu LDL está elevado, é mais sensato avaliar sua alimentação como um todo, e não culpar os ovos isoladamente. Uma refeição equilibrada com arroz, feijão, frango e ovo é uma excelente escolha para a saúde.
Mas e a genética?
É claro que existe uma parcela da população que tem uma predisposição genética a apresentar alterações no perfil lipídico. Pessoas com polimorfismos no gene da Apo B, por exemplo, podem produzir mais colesterol de forma endógena, independentemente da dieta.
Nesse caso, mesmo comendo de forma equilibrada, essas pessoas podem ter LDL elevado. Para elas, muitas vezes, o uso de medicamentos como sinvastatina é necessário.
O problema é que algumas dessas pessoas acham que, porque estão tomando remédio, podem relaxar na alimentação. Aí vem a lógica equivocada: “Já que tomo remédio, posso comer linguiça e outros alimentos gordurosos à vontade.” Isso é um erro. O remédio é um complemento, e não uma autorização para descuidar da saúde.
Cuidado com as generalizações
Outro ponto importante é evitar generalizações. O que funciona para uma pessoa pode não funcionar para outra. Se você tem LDL elevado, o primeiro passo é avaliar sua alimentação como um todo e, se necessário, ajustar a ingestão de gorduras e carboidratos refinados.
Além disso, vale a pena conversar com um nutricionista ou médico para entender melhor seu perfil genético e metabolismo. Cada caso é único, e nem sempre o que parece ser o vilão realmente é.
O ovo não é o vilão do colesterol!
O ovo não é o vilão do colesterol. Estudos confiáveis mostram que a contribuição do colesterol alimentar para o colesterol no sangue é mínima.
O foco deve estar em reduzir:
- Gorduras trans (presente em ultraprocessados).
- Gorduras saturadas em excesso (carnes muito gordurosas).
- Carboidratos refinados (doces, pães brancos e massas ultraprocessadas).
Se você está preocupado com seus níveis de LDL, evite culpar um único alimento. Em vez disso, analise sua dieta como um todo e mantenha um estilo de vida saudável.
E lembre-se: para algumas pessoas, fatores genéticos desempenham um papel importante, e, nesses casos, o acompanhamento médico é essencial.
Então, pode continuar comendo seus ovos, desde que de forma equilibrada. Afinal, eles são uma das melhores fontes de proteína e um dos alimentos mais completos que temos à disposição.
E o mais importante: O que realmente importa é o conjunto da alimentação, não um único ingrediente da dieta.